5.24.2007

Moçâmedes: Impala Cine (Rua S. João)





Impala Cine
Impala Cine
Impala Cine
Impala Cine


Várias perspectivas da fachada e do interior do Impala Cine, em Moçâmedes, actual cidade do Namibe, desenhado pelo Arquitecto Botelho Pereira. Este Cine Esplanada tomou o nome do antílope africano, um dos símbolos da cidade.




O aspecto feérico do moderníssimo Impala Cine numa noite de verão 






Perspectiva do Impala Cine




Outra perspectiva do Impala Cine




A parte de trás do Impala: o Bar


O Impala em dia de inauguração




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O Governador Sales de Brito a ser cumprimentado pelo Dr Balsa (?). À esq, Artur Homem da Trindade. Este Sr. foi o desenhador de algumas das vivendas e edifícios dos mais bonitos da cidade. Penso que foi ele que projectou o Impala.



O Governador Sales de Brito, ao centro, e à dt. o Capitão do Porto, Marrecas Ferreira?



O Governador Sales de Brito esposa e...?


Algumas caras conhecidas.. Reconhece-se da esq. Alfredo Esteves, ao centro Rogério de Sousa


Assistindo a um espectáculo
Assistindo a um espectáculo


Assistindo a um espectáculo. Foto cedida por Ascensão Bacharel. Na 4. fila a partir da frente, elementos da familia Bento. De óculos, Armindo Bento. tendo à sua esq. as duas filhas e genros, e à dt. Jorge Carilho. Na 2ª fila,: Geninha Amado e o marido, Moinhos; Raúl de Sousa Junior (Lico), Ascenção e Gonzaga Bacharel.



Pais e filhos à saída de um desfile infantil de trajes de carnaval, no Cine Impala. Reconheço, entre outros, Mário Lisboa Frota (Mariúca), no centro da foto, tendo à sua esquerda a esposa, Luzete Sousa Frota.


Três moçamedenses junto da sala de espectáculos do Impala: Isabel Maria Correia Nunes, Ana Cristina Nunes Leitão Pisco e Raquel Maria Nunes Leitão Pisco. Foto gentilmente cedida por Isabel Nunes. 1974. Foto cedida por Isabel Maria Correia Nunes
De vez em quando Moçâmedes era palco de espectáculos de artistas vindos do exterior. Neste caso trata-se de Marisol, a jovem cantora e actriz espanhola que aqui vemos no centro desta foto, vestida de branco e rodeada por gente jovem da cidade, por ocasião de um cocktail oferecido pela Câmara Municipal no Impala Cine Esplanada. À esq. de Marisol, podemos ver Mitzi Aboim (na altura funcionária da Câmara Municipal), e à dt. Anita Ribeiro, Anita Corado e Maria do Rosário Salavessa (na altura, também funcionária da Câmara Municipal).


Na esplanada do Impala, em foto cedida por um amigo, podemos ver algumas caras conhecidas: (da esq para a dt): Lopes, Santos, Amadeu Pereira, Fernando Miranda, ?, Santos (do Sindicato dos Motoristas), John Pereira, Saturnino, ?. Pinto.


Outro grupo de habituais frequentadores do bar do Impala, entre os quais, Baptista (de óculos escuros) e mais à esq, Rodrigues Costa e Mário Ferreira, à direita.
E mais outro grupo...




O IMPALA CINE


Já nos referimos neste blogue ao Cine Moçâmedes, vamos hoje começar por falar do Impala Cine, a segunda casa de espectáculos surgida em Moçâmedes na década de 1960, numa época em que a população da cidade havia dado um salto, e justificava-se plenamente a sua abertura.



Enquadramento na época
 

Sem dúvida. prosseguindo embora a um ritmo menos acelerado, Moçâmedes cresceu naquela década, aumentou substancialmente a sua população, e embora continuasse uma pequena cidade, onde a comunidade branca fixa estava em maioria, já nada tinha a ver com aquele tempo que eu conheci, em que na cidade todos nos conhecíamos, e todos éramos primos e primas...
 
 Isto, porque entrada de portugueses em Angola foi muito lenta até à década de 1950, eles representavam apenas 1,9% da população total, e se a sua emigração para as colónias de África no quadro era pouco ou nada incentivada até 1926, no quadro do Estado Novo, de inicio eram submetidas à exigência de "cartas de chamada" que obrigavam os interessados a terem trabalho garantido no local de destino. 
 
E entre 1950 e 1960, numa década, a entrada de portugueses apenas cresceu em mais 9159 indivíduos, portanto nada que se aproximasse do "boom" que veio a verificar-se após 1961, a seguir aos massacres levados a cabo no Norte de Angola, pela UPA, e ao grito de Salazar "Para Angola, rapidamente e em força". Nesse ano e seguintes, Luanda assistiu ao desembarque de milhares de militares e de novas gentes das mais variadas idades e patentes. Diariamente passaram a chegar a Angola, empreendedores de todos os ramos, gente de negócio fascinada com o potencial que ali encontrava, e até outras gentes de vistas largas, que aspiravam a uma mais ampla descentralização e autonomia para as colónias, durante excessivo tempo estranguladas no seu desenvolvimento, incluso uma maior igualdade e participação dos naturais no progresso da colónia, ideia que fazia tremer Salazar e a sua Pide. 
 
É claro que neste contexto, a cidade de Moçâmedes, cercada por imenso deserto pouco povoado e  juntinha ao mar, também teve a sua evolução, cresceu embora a um ritmo diferente, ganhou qualidade de vida e passou a ser a cidade de Angola onde a população africana fixa era em número inferior à europeia. Isto porque para além dos quimbares, descendentes de antigos escravos que ali se fixaram para sempre, a população africana era móvel, feita de contratados vindos do interior de Angola para trabalhar 2 anos, findos os quais regressavam às suas terras. 

Mas falemos do Cine Esplanada Impala, que é o assunto que nos trás aqui.

Dotado de uma arquitectura modernista, de espaços abertos à penetração da luz natural, ao ar livre, bem adaptada a climas quentes, o Cine-Esplanada Impala era apetecível no Verão, mas no Inverno as noites frias levavam muita gente a preferir o Cine Teatro de Moçâmedes. Outro aspecto era aquele que João Viana nunca se esqueceu na sua experiência no Impala Cine de Moçâmedes: "As sessões começavam ao final da tarde, e o projeccionista e os espectadores tinham de esperar que chegasse a noite para o filme começar..."

Mas o Impala também possuía o seu Bar, que ficava nas traseiras da casa de espectáculos, onde grupinhos masculinos que o frequentavam diariamente, ali ficavam em agradável cavaqueira nos finais de tarde e fins de semana. Dispondo de recantos agradáveis envolventes, com os seus bares que trabalhavam durante o dia independentemente das sessões de cinema, este estilo de cine-esplanadas foi introduzido por Ribeiro Belga em Angola. Foi o Miramar em Luanda primeiro, a seguir o do Lobito e o de Moçâmedes. O Impala tomou o nome do antílope africano, um dos símbolos da cidade.


Tal como o Cine Teatro de Moçâmedes o Impala Cine também acolheu os mais diversos espectáculos, para além dos cinematográficos, ou seja concursos de trajes de Carnaval, sessões de ballet e dança rítmica, etc. etc.

Quando o Impala surgiu, caminhávamos já para a chamada "Primavera Marcelista" que veio a seguir à morte de Salazar (1968), acompanhada de uma maior abertura do regime de partido único em que vivíamos. Muita coisa no Mundo tinha mudado entretanto, incluso o modo de fazer Cinema, que já era outro. Longe estávamos já dos musicais açucarados e dos épicos hollywoodescos que faziam vibrar plateias nos anos 1950. 

Quanto ao filmes que nesta altura eram exibidos, importa referir que na década de 1960 a indústria do Cinema conheceu uma nova geração de produtores mais jovens, mais realistas, mais abertos e mais críticos em relação aos problemas políticos e sociais, e passou a abordar temas quentes, como a miséria nas grandes cidades, o racismo, a violência, a corrupção, a droga, o sexo, etc, enfim, tudo quanto rolava nesses agitados anos em que o assunto lá fora que corria de boca em boca era a Guerra do Vietnam, a contestação juvenil, o movimento hippie a agitar a sociedade americana, os Beatles a revolucionarem a música inglesa, o Maio de 1968 em França, etc etc... Obviamente para nós que vivíamos no quadro de um regime de ditadura de partido único, muitos filmes que nos poriam em sintonia com nosso tempo, passaram ao largo, fruto da "censura", exceptuando aqueles que veiculavam princípios morais contra a violência, a corrupção, etc, e ainda os musicais (música pop, "rock and roll", etc.) tão do agrado das novas gerações. E porque aquilo que íamos ver dependia do estado de espírito do censor, da sua perspectiva, por vezes escapassem filmes que se anteviam censuráveis. Sobre política, tínhamos os documentários que abordavam assuntos como a situação no mundo português, as mais recentes realizações em obras de fomento, a guerra no ultramar, etc. Obviamente sempre vinculados às posições governamentais, à propaganda do regime... 

Este era o contexto quando surgiu em Moçâmedes, em 1960, o Cine Esplanada Impala, a 2ª sala de espectáculos da cidade cujos proprietários eram Norberto Gouveia e Artur Pinho Gomes e Mário Gomes.

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Bilhete de entrada no Impala Cine (note-se, datado de 1 de Julho de 1975, valor de 23 escudos, incl. selo de povoamento e de assistência). Estava-se a 4 meses e meio da Independência de Angola.








Saudade

Ausente do corpo, sempre presente...
Povoa-me a alma de instantes do tamanho 
do Mundo!
Nomes ausentes, flores pujantes de
primaveras passadas,
Memórias prensadas entre as folhas de
outras memórias,
Que de tempos a tempos folheio,
Tacteio as folhas verdes, esmorecidas,
Leio-lhes a sina, já escrita;
Nas nervuras ressequidas,
O toque trinado das cordas do tempo,
Acompanha o fado.
Histórias dentro de histórias,
Marcadas com pétalas de flores
E com folhas vivas
Sacrificadas ao ritual das marcas da vida.

J.F.


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