5.24.2007

Moçâmedes, Namibe: Mercado Municipal, o velho Moinho e o Horto




Quando eu voltar…


 Quando eu voltar…Se um dia voltar…
posso abrir as gavetas
escancarar as portas
… deixar o vento passar
e…
no bater das janelas
abertas de par em par
festejar nas coisas belas
a alegria do regressar.Se um dia voltar…de:

aileda/adeliavaz






PALAVRAS CALADAS

Muitas palavras há que me podias ter dito,
Uma palavra só esperava me dissesses…

Podias falar do tempo,
Do cacimbo que esfria e das calemas,
Do vento leste e das garrôas,
Do sol que abrasa,
Da chuva que rareia;
Podias falar do mar que nos sustenta,
Do pungo, do atum, do mero,
Da sardinha arrastada pela corrente de Benguela,
Da beleza das nossas praias
Das Miragens, do Chiloango, da Praia Azul;
Podias falar do deserto que nos encanta,
Da cabra-de-leque e da gazela,
Da welwitschia que nos orgulha,
Do misterioso fascínio do Iona,
Da magia das furnas,
Das hortas e pomares,
Dos olivais e dos vinhedos;
Podias falar de Kimbandas e feiticeiros,
De milongos e cazumbis,
Das ruas por onde andámos,
Dos palcos por onde nos cruzámos,
Do vai-vem do picadeiro,
Da ponte-cais e da jangada,
Do Cabo Submarino,
Da nossa escola,
Da Senhora do Quipola,
Das Festas do Mar.

Muitas palavras há que me podias ter dito,
Uma palavra só esperava me dissesses
E nunca tua boca pronunciou!...
Por isso, hoje, o mundo tem dois lados:
O lado onde tu estás,
O lado onde eu estou!..
 
José Antonio Teixeira.
 

 Welwitschia

Mora a Welwitschia no ermo solitário
A flor de Angola, dum areal do Sul,
Braços coleantes sob o céu azul,
A flor da sede, em prece num calvário...

A estranha raridade vegetal
Será, talvez, num velho mar extinto,
Um polvo exótico, ou a aflor do mal,
vencendo a morte no rigôr do instinto...

Seja o que fôr, estrela, monstro ou flor
Eu sinto-lhe nos braços revoltados
A trágica expressão da imensa dor,
Talvez, de belos sonhos destroçados...

Eu penso que a welwitschia exilada
No seu mundo de sede e solidão
É irmã de tanta alma torturada,
Que anda sózinha em meio à multidão...

Furtado d'Antas

Composição lírica publicada no semanário Mossãmedes, 1 de Janeiro de 1938.
 

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