O
"SOBRADO" da "COMPANHIA DE
MOSSÂMEDES"
Pleno de carácter e de História, este "Sobrado", cujo último proprietário foi Venâncio Guimarães, pertenceu à Companhia de Mossâmedes, ou "Mossâmedes Society", Companhia Majestática, de responsabilidade limitada, com sede em Paris, criada em 1894 pela Royal Society, com a maioria do capital francês, na sequência do Tratado assinado entre França e Portugal, em Maio de 1886, por altura da Conferência de Berlim, e da assinatura do Mapa Cor-de-Rosa. Ou seja, numa altura em que a soberania de Portugal em toda uma faixa do território angolano a sul de Benguela e seu Interland se encontrava em perigo, alvo da cobiça dos alemães do Sudoeste Africano (actual Namibia), que aspiravam a construção de um caminho de ferro transafricano que garantisse aos territórios que ocupava uma saída para o mar, ligando o Índico ao Atlântico. Por esse tempo não estavam ainda definidas as linhas de fronteira, era grave a crise financeira portuguesa, e com nitidez se revelava ao exterior a incapacidade dos portugueses de subjugarem os povos guerreiros do Cuamato e do Cuanhama, que habitavam a sul do Cunene. Foi então que a Companhia fez deslocar para Moçâmedes vários especialistas, de prospetores a engenheiros, biológos e agronómos, etc., com o objectivo de levar a Angola a dar o grande salto de que necessitava para progredir e se modernizar, e para que Portugal ganhasse o respeito de nações cobiçosas.
Eram
tempos de reconversão económica, com o fim do tráfico de escravos que
durante 3
séculos escoara de Angola na direcção do Brasil e Américas, definitivamente abolido em 1869. No horizonte desenhava-se um novo paradigma voltado para o desenvolvimento da colónia e a fixação de familias portuguesas. E porque o investimento dos colonos, sem grandes capitais, não era suficiente para levar por
diante o desenvolvimento de infra-estruturas necessárias -- a
construção da ferrovia, a implantação e o desenvolvimento da produção
agrícola, bem como a exploração de recursos minerais, etc etc,-- este seria o
principal objectivo desta Companhia.
Este "Sobrado" guarda pois memórias de um passado que não volta mais, foi o tipo de habitação característico de um certo modo de ser e de estar, que ficou a marcar uma época pela sua arquitectura específica. Muito difundido no Brasil colonial, segundo o sociólogo brasileiro Gilberto Freire, eles disseminaram-se no Brasil precisamente no momento em que começou a dissolver-se o sistema económico fundado no tráfico de escravos, quando os proprietários rurais, aburguesados, se transferiram de suas "Casas Grandes" rodeadas de "Senzalas", erguidas junto das plantações, para os centros urbanos, onde procuraram manter nesta fase, usos e costumes tradicionais, levando consigo a criadagem que se habituaram a ter por perto para os servir. O sobrado permitiu-lhes um tipo de habitação muito especial, com características próprias em termos de espaço interior, de divisões, etc, adaptados ao estilo de vida citadino, sem um corte abrupto com o passado rural, nessa fase de transição. Permitiu-lhes essa superação e essa adaptação. Sobrados de dois pavimentos eram destinados às classes mais abastadas, comumente possuem um espaço livre frontal cercado por grades, um amplo lance de escadas que leva ao pavimento superior composto por uma sala e portas que se abrem para os quartos de dormir, além das quais se situa a varanda, onde a família geralmente faz as refeições e recebe visitas durante o dia. A parte mais baixa da construção é ocupada pelos serviçais, ex-escravos, por animais ou destinada a fins domésticos, ou ocupados por lojas. Dava-se grande importância às varandas internas voltadas para dentro, as bandeiras nas portas e janelas, e as sacadas externas voltadas para a rua, com grades de ferro. Os Sobrados podiam ter uso residencial, comercial ou misto. O uso determinava a compartimentação.
Eles representam um tipo de construção única na cidade,
um exemplar raro e irrepetível, a recordar esses velhos tempos que em
que o trabalho escravo e semi-escravo alimentara uma economia que tinha
por base as plantações de cana de açúcar. Em Angola também os havia,
sobretudo em Luanda e em Benguela. Em Moçâmedes onde a colonização foi
tardia, conhecemos apenas este. Até neste pormenor se revela o tipo de
colonização ali levada a cabo. Até porque muito poucos podiam ter a veleidade de
mandar construir um SOBRADO!
ISTO É MOÇÂMEDES
Há cheiro a maresia
Aves a cantar
Hortas verdejantes
Dão triunfantes
o braço ao mar
Refrão
Branca areia a brilhar
Isto é Moçâmedes
Espuma do verde mar
Isto é Moçâmedes
Um deserto escaldante
Isto é Moçâmedes
Um céu limpo sem par
Isto é Moçâmedes
Mil seguros no ar
Isto é Moçâmedes
Traineiras apitando
Lá vais pescador
E o sol espreitando
Está te enviando
Um beijo de amor.
Isto é Moçâmedes
Teresa Ressurreição
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